sexta-feira, 1 de abril de 2011

Nordestinamente Brasileiro


Eu sou verso, poema, sou canção
Sou nordestinamente brasileiro
Sou da terra de Jackson do pandeiro
Discípulo do mestre rei do baião
Eu sou voz, melodia, sou paixão
De um povo que canta sua gente
Um vaqueiro que faz o seu repente
Aboiando as coisas do sertão
Eu sou verso, poema, sou canção
Sou nordestinamente brasileiro

Eu cresci com cuscuz e mungunzá
Carne de sol no óleo e arroz de leite
Minha mesa não teve muito enfeite
Se comia o que dava pra comprar
Era bolo de milho e de fubá
Malassada com ovo e com biju
Eu com a boca dormente do imbú
E a canjica esfriando no fogão
Eu sou verso, poema, sou canção
Sou nordestinamente brasileiro

Joguei bila e brinquei de peão
Soltei pipa, atirei de baladeira
Meu carrinho era uma roladeira
Era o rei na polícia e ladrão
Fui he-men, super homem, fui sanção
Com as meninas da rua era o artista
Pêra, uva, maçã, salada mista
Desde novo muié foi perdição
Eu sou verso, poema, sou canção
Sou nordestinamente brasileiro

Minha vida foi dentro de um curral
Desde novo sentado numa cela
No domingo ia á missa na capela
Implorar para Deus chuva mandar
Certa vez eu fui conhecer o mar
Tanta água perdida que eu chorei
Fosse doce eu digo á vocês
Mataria a sede do meu sertão
Eu sou verso, poema, sou canção
Sou nordestinamente brasileiro

Sou de nós, sou de casa, sou raiz
Da batalha do povo eu sou a soma
No cabo da enxada meu diploma
No suor do meu corpo meu chassi
Nem tudo é do jeito que eu quis
Mas na vida nem tudo está perdido
O que importa é que Deus está comigo
E acredito na sua salvação
Eu sou verso, poema, sou canção
Sou nordestinamente brasileiro

Eu só quero na vida ser feliz
Ver de perto os meus filhos crescer
Dar a eles o que eu não pude ter
Em saúde, lazer e educação
Como quem já cumpriu sua missão
Receber qualquer um de braço aberto
Dedilhar minha vida no meu verso
Terminar os meus dias no sertão
Eu sou verso, poema, sou canção
Sou nordestinamente brasileiro.

Niedson Lua